quarta-feira, 13 de maio de 2009



Lula e o povo nascentepor Leonardo Boff
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, novamente visitou-me um anjo de luz e me sussurrou: ''Agora que seu amigo, irmão e companheiro foi investido de poder, não deixe de lhe recordar a missão que o povo brasileiro lhe confiou e que jamais deve esquecer em momento algum de seu mandato: você foi eleito para refundar a sociedade brasileira, suporte indispensável da revolução necessária''.
Acabadas a euforia da vitória e as festas da posse temos de refletir seriamente o que isso significa e como devemos cooperar nesse propósito. Minha reflexão é didática, como o faria um mestre de ensino fundamental.
Antes de mais nada, Lula, cabe lembrar: ser presidente não é a coisa mais importante do Brasil. Mais importante que o presidente é o governo que pode mudar em cada eleição. Mais importante que o governo é o Estado que permanece ao longo do tempo. E mais importante que o Estado é a sociedade, conjunto das relações entre os humanos e suas instituições. E mais importante que a sociedade é a ação da cidadania, a força originária que tudo cria e dinamiza.
A coisa deve ser pensada nesta ordem: a ação da cidadania constrói a sociedade, que, por sua vez, cria o Estado, que, por seu turno, forma o governo que, por fim, ganha corpo no presidente. Você, Lula, vem no termo dessa cadeia que o sustenta e lhe dá força. Sem a ação cotidiana da cidadania e sem a sociedade, o poder de seu governo e o seu de presidente acabarão sendo o poder dominante da sociedade, exercido distanciado do povo. Você bem sabe: o que herdamos do passado foi uma elite insensível, um Estado seletivo e uma massa de destituídos e dependentes. Mas do meio dessa massa nasceram lideranças, movimentos, a Igreja da libertação e o PT, que geraram cidadãos participativos e críticos. Eles estão gestando a nova sociedade brasileira, democrática e libertária. Dessa sociedade está nascendo o povo brasileiro, pois este ainda não acabou de nascer. Mas continua nascendo na medida em que chega à consciência de seu valor, projeta uma esperança de um Brasil diferente e melhor para todos e quer realizá-lo já agora, sob sua liderança. Você é fruto desse processo.
Você foi eleito mais como Lula do que como Luiz Inácio, para ser o co-parteiro, junto com outros, dessa sociedade e do povo brasileiro. Por isso, esteja mais próximo dos candangos do que dos poderosos, mais na planície do que no ''Planalto''. Em função desse desafio, vale lutar por um projeto econômico sustentável, um mercado mais disciplinado e uma cultura mais embebida das raízes coletivas de nosso povo. Se não implementar esse processo que ultrapassa sua biografia, pouco terá valido seu governo e vão terá sido seu carisma pessoal. Se o conseguir, mesmo que seja só em parte, terá posto em marcha a revolução brasileira, possível e tão ansiada.
Por fim, Lula, você é o guardião da esperança que suscitou. Você nos convenceu de que ainda temos tempo e de que existem condições indispensáveis para encontrarmos nosso caminho, testemunhando que, finalmente, ''tudo vale a pena porque nossa alma não é pequena''. Dessa esperança operativa vai nascer o Brasil que queremos, com uma justiça mínima para todos. Só assim serão menos difíceis a solidariedade, o novo pacto social, o pão e a beleza.
fonte: http://jbonline.terra.com.br

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