segunda-feira, 11 de maio de 2009


É ele quem faz os craques brilharem
Com atuação voltada à aprendizagem e à formação dos educadores, o coordenador pedagógico afina o time de docentes da escola
Fernando José de Almeida mailto
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"A função primordial do coordenadoré procurar formas de ajudar osprofessores de todas as disciplinasa avançar." Foto: Marcos Rosa
Não sei se você gosta de futebol. Eu sou um grande fã e, por mais que a ideia pareça um pouco gasta, resolvi iniciar este texto cometendo a imprudência de comparar a escola com uma equipe do esporte. Começo pelos jogadores - alunos, professores, funcionários - e pela torcida - os pais, a comunidade, todos os dirigentes da Educação e a sociedade, muitas camisas incentivando para que o gol da aprendizagem aconteça. Esse timaço não joga sozinho. Precisa de um presidente - no caso da escola, o diretor. Referência de reflexão e planejamento geral, é quem define as decisões mais gerais (o presidente negocia patrocínios, o diretor constrói o Projeto Político Pedagógico e estabelece parcerias), dialoga com a torcida (se o presidente recebe as organizadas, o diretor cuida da articulação com a comunidade) e zela pela agremiação (em seu "clube", o diretor faz a gestão administrativa, de aprendizagem, do espaço e da equipe).

Mas um time só com presidente seria meio capenga. Equipes de sucesso exigem um profissional que não apenas mergulhe na história do esporte, mas que esteja antenado com as principais novidades na área. Que domine a arte e a ciência do jogo não apenas para chamar a equipe à unidade, estimule-a quando toma um gol inesperado - "Exatamente quando estávamos jogando tão bem!" - ou a modere quando algum jogador se exalta. No futebol, essa pessoa é o técnico. Na escola, é o coordenador pedagógico. Para ser bem exercida, a função de coordenador supõe um enorme conhecimento do conjunto da escola. Quem são os alunos? Quais turmas apresentam maior dificuldade (e em quais disciplinas)? Como trabalham os professores? Quais necessitam de maior auxílio na formação em serviço? O que os estudantes estão aprendendo - e o que estamos fazendo para ajudar aqueles que ainda não chegaram ao nível desejado? Como se vê, o foco desse profissional aponta fortemente para a gestão da aprendizagem e para a formação dos professores. Isso inclui dominar algumas coisas que nenhuma faculdade ensinou a ele: saber como o currículo foi desenhado, quando e como se articulam as áreas do saber e quais os modelos de avaliação disponíveis. Apesar de não ser uma tarefa fácil, ela é indispensável. É justamente o conhecimento das diferentes disciplinas, de seus objetivos, de suas propostas de recuperação, da bibliografia adotada e das metodologias propostas que conferirá a ele a respeitabilidade dos professores. Isso exige muito estudo. Vejo duas grandes perguntas a respeito da atuação do profissional. A primeira: o que, exatamente, ele tem de saber? Eu diria que a boa notícia é que ele não precisa entender de tudo. Sua função primordial é procurar formas de ajudar os professores de todas as disciplinas a avançar. A primeira edição da revista NOVA ESCOLA GESTÃO ESCOLAR traz um excelente exemplo de como esse auxílio acontece na vida real. A reportagem Documentos em Ordem mostra como a coordenação pedagógica pode orientar a equipe de professores na produção e montagem de portfólios, registros, pautas de observação, diários de aula e notas, registros fundamentais para o trabalho de qualquer docente. A segunda pergunta: como (e onde) conseguir esses conhecimentos? Os caminhos são diversos: uma boa visita às livrarias da cidade, uma exploração atenciosa do acervo pedagógico na biblioteca do bairro, programas de formação oferecidos pelas Secretarias e outras instituições e a participação em seminários e congressos - com o compromisso evidente de socializar as informações principais para os demais profissionais da escola. Assim, o coordenador vai constituindo sua figura como um parceiro e um orientador do trabalho docente. Para isso tudo, o coordenador tem meios de atuação difusos: a presença nas atividades pedagógicas que alunos e professores promovem, a conversa individual com os docentes e a direção, as apresentações de trabalhos, as organizações de estudos do meio, as visitas e as festas, o material que ele torna disponível na sala dos professores, os avisos que deixa no quadro e até mesmo a sala do cafezinho. Mas ele conta ainda com um momento privilegiado. É o chamado Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC), período de formação em serviço durante o qual seu "jeitão" aparece e se consolida. Ali, o coordenador desenvolve seu máximo trabalho: fazer com que os professores, os verdadeiros craques do time escolar, brilhem (porque são as estrelas e, afinal, cabe a eles preparar as aulas, trabalhar duramente com centenas e centenas de alunos, corrigir provas e trabalhos, extenuar a voz para ser ouvido e ainda readequar suas aulas ao seu plano inicial). No HTPC, o coordenador ilumina o trabalho dos docentes, colocando-os como o centro do processo de ensino e aprendizagem: o que cada um deles faz de melhor? O que precisa aprofundar, estudar mais, trocar com os colegas? É possível, por exemplo, levar para esse horário uma prova tão boa, concebida por um dos integrantes da equipe, que mereça ser estudada pelos colegas. Atitudes assim põem em relevo a liderança do coordenador pedagógico. Não se trata, aqui, de liderança como imposição, mas como prestação de serviço, que junta as partes dispersas, evidencia as coisas boas, participa do dia-a-dia, avalia rumos, dá ideias com base nas necessidades, estimula práticas criativas de alunos e professores e apoia o diretor para cumprir sua tarefa de construir caminhos para a escola junto com a comunidade. Para retornar à metáfora futebolística, ele é um dos que mais ajudam a bola a correr bem redonda no gramado. Como o técnico, pode até não entrar em campo nem levantar o troféu, mas, sem ele, não existe time campeão.
Fernando José de Almeida
É filósofo, docente da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo e vice-presidente da TV Cultura - Fundação Padre Anchieta.
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Comentários (7)
Vanessa Cristina martha - Assim que li a reportagem fiquei contente porque sou professora coordenadora pedagógica desde 2007, trabalho em uma escola da periferia e sinto-me, algumas vezes, frustrada por não conseguir atender a todos os professores que trabalham comigo. Na Educação, há muito professor bem preparado e que tem muito a "dar" mas não consegue devido as dificuldades em sala de aula, como: alunos que ainda se encontram em níveis de alfabetização em 7ª série, faltas consecultivas com a desculpa de "perder a hora" e outras. Essa comparação com um time de futebol foi perfeita porque, numa escola, ninguém resolve o problema sozinho. Vanessa
Deborah Christina Carlotti Paixão - Penso que o coordenador pedagógico deve cooptar a atenção de todo o corpo docente não apenas pela função que lhe cabe, mas principalmente pela fruição e intencionalidade que demonstra em suas ações. Quando ele se reconhece como parte deste corpo e percebe a contribuição e a importância de cada um em suas respectivas funções para a constituição deste todo, os trabalhos adquirem consistência e viabilidade, tornam-se perceptíveis a todos, inclusive aos alunos e familiares. Uma equipe pedagógica sustentada pelo respeito, compromisso, alteridade, fruição nas questões escolares e relacionais, o gol é, praticamente, certo. Em sua proposição, professor, vejo explicita a importância da atuação compartilhada e responsável. Adorei!
ANIELLIS DE SOUSA AZEVEDO - Como é bom ler as expressões de quem valoriza e entende a função do Coordenador Pedagógico! Sou Coordenadora Pedagógica há três anos e a cada ano vivencio uma nova experiência, convivo com novos professores e cresço a cada dia. Encontrei nesta função a vontade de estudar mais. Busco estar atualizada, leio o que percebo que é interessante para meus professores e para a realidade em que os alunos se encontram. Tenho a consciência de que posso fazer a diferença em minha escola e melhor que isso, posso mostrar aos professores o poder que cada um possui para transformar a educação brasileira. Esta matéria abrirá a mente de alguns professores que ainda não entendem o papel do Coordenador dentro da escola. A metáfora da escola em relação ao jogo de futebol foi evidenciada no momento certo. Pois, atualmente, se tem falado muito do trabalho em equipe e nada melhor do que citar um time de futebol. Considerar que o Coordenador é como um técnico faz levantar a auto-estima de muitos que exercem este papel. Não há dúvidas de que o time escolar só tem a marcar muitos gols da aprendizagem se contar com um dedicado Coordenador, e este demonstrar uma relação de parceria com os professores para colher os melhores frutos do processo educativo. Aniellis de Sousa. Graça-Ce.

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