sábado, 13 de junho de 2009


José Pacheco
por LARISSA PURVINNI, MÃE DE CAROL E DUDA, E SARAH MAIA, FILHA DE IESMIN E SAULO 04 de abril, 2007


A ESCOLA, HOJE, MAIS DO QUE PRODUZIR SUCESSO, PRODUZ INSUCESSO

É difícil saber para que lado José Pacheco, 55, pai do hoje professor de matemática André Marcos e avô de Alice e Marcos, está olhando quando se fala com ele. Bastante estrábico, ele pode estar de olho em você. Ou não. Diante de uma encruzilhada, pode enxergar mais de um caminho. E foi o que fez, há 31 anos, quando chegou a Vila das Aves, localidade miserável próxima à cidade do Porto, iniciando uma revolução na educação em Portugal. A escolha do destino foi ao acaso: o nome soava poético. A realidade que achou foi bem diferente. Nem mesmo porta havia nos banheiros. Por caminhos outros, a ausência de divisórias viria a se tornar uma das marcas da escola: lá não há salas de aula nem divisão em séries ou por faixa etária. O que move o aprendizado é a curiosidade. Os alunos escolhem os temas que querem estudar e, em grupo, com a orientação de um professor, pesquisam. Durante muito tempo, o projeto foi tocado na clandestinidade. Hoje, a Escola da Ponte é referência internacional, defendida por pais e alunos e com ecos aqui no Brasil. Conhecer a experiência da Ponte é um modo de repensar muita coisa, do nosso sistema educacional ao modo como criamos os filhos.

Você acha que, nas escolas, os professores e as crianças estão desestimulados tanto para dar aula quanto para aprender?
Há três tipos de professores: os bons, os que podem aprender e os que devem mudar de profissão. Penso que os dois primeiros são os que contam. Há muita gente nova que só está à espera do exame para começar a ser professor. Já os que devem mudar de profissão, as escolas devem colocá-los na fila do desemprego, porque são prostitutos da educação. Mas eu prefiro pensar nos outros. Aqui no Brasil essa gente me comove, pois é mal paga, mal vista, trabalha em condições péssimas, é mal tratada socialmente e, mesmo assim, faz um trabalho que me orgulha de ser professor.

É possível adaptar o método da Escola da Ponte às escolas públicas do Brasil?
Não se pode imitar a Ponte, como não se pode imitar nada. Eu prefiro falar em escola, não em escola pública, pois é aquela que dá todas as possibilidades, condições de acesso e a todos condições de sucesso, pessoal e escolar. Considero que é na escola pública que a mudança está para acontecer. E prefiro pensar no que de bom está para acontecer. No Brasil, muita coisa está para acontecer, são poucas escolas, não é a maioria que vai mudar. Eu não gosto do discurso miserabilista, que diz “não temos condições, somos mal pagos”. Eu digo: façam o melhor para serem mais bem pagos. Não têm formação, vão buscá-la. Há alguns anos eu ouvia uma conversa lá em Portugal: “Enquanto nos pagam mal, trabalhamos mal; quando nos pagarem bem, trabalharemos bem”. Hoje, em Portugal, um professor ganha bem.

AGRADECIMENTO
A Escola Projeto Vida, que nos convidou para assistir à palestra Formação na Diversidade, de José Pacheco, no dia 2 de fevereiro, marcando o lançamento do Foco, e seu Centro de Formação Continuada, aberto para formação de profissionais que atuam em creches, Centros de Convivência, EGJ (Espaço Gente Jovem), escolas da rede pública e privada, secretarias municipais da Educação e Cultura, ONGs, além dos próprios funcionários da entidade. Tel. (11) 6236-1425 www.projetovida.com.br

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